domingo, 17 de abril de 2016

Ensaio sobre Spoilers





Por Davi Paiva

1 - O que é o spoiler?
Spoiler vem do inglês "spoil", que quer dizer "estragar". Quer dizer a informação de qualquer obra (livro, filme, desenho, jogo, seriado, novela, etc.) que, se revelada, estraga a surpresa que o público terá ao vê-la em vez de ouvir alguma pessoa comentando.


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2 - Spoiler = contar o final?
Não exatamente. Todas as histórias possuem plot twists, que são os pontos de virada. Eles ocorrem nas narrativas a qualquer momento e podem fazer a diferença para surpreender o público. Se revelados, são considerados spoilers.
Também há histórias que ainda estão em produção (mangás, seriados, livros em série, etc.) e possuem pontos importantes que, se revelados, decepcionam a pessoa que está acompanhando a obra.


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3 – Spoiler = sinopse?
Também não. Você pode dar um breve resumo do que a história se trata (ex: Deadpool é a história de um mercenário com câncer torturado durante o tratamento que acaba com o rosto deformado. Daí ele busca encontrar o responsável para buscar a cura para sua outra enfermidade) sem revelar seus plot twists ou se ele vai conseguir tudo que quer.
Para quem era da época, lembrem-se das sinopses nas capas de fitas de vídeo: elas nunca revelavam o final da saga ou seus pontos importantes.

4 - Com quem eu posso contar um spoiler?
Se a pessoa disser "por favor, não me conte absolutamente nada a respeito de [nome da obra]", respeite esta decisão. Qualquer pessoa com nível básico de entendimento sabe o que esta frase significa. Desrespeitar a vontade do outro é dar motivos para aborrecimentos e, talvez, até um desprezo.
Portanto, procure comentar sobre obras com quem esteja com tudo em dia: assistiu ao último episódio do seriado, viu o filme em cartaz, leu o último livro/mangá que saiu, etc.
Nota: há pessoas que não se importam de receber spoilers. Mas não custa nada ser educado e perguntar "tem certeza que quer saber?" antes de dizer algo importante.

5 - Quando eu posso contar um spoiler?
De preferência, não conte. Eu, por exemplo, nasci em 1987. Não li/assisti/joguei tudo que foi lançado antes de eu nascer e nem li/assisti/joguei tudo que já foi lançado desde que vim ao mundo. Ao contrário do que muitas pessoas supõem, não há um prazo específico para o spoiler: se a obra saiu há uma semana, há um ano, há cinco anos ou mais de 50 anos, ela pode ser recolocada na cultura atual e precisa ser desvendada pelo próprio fã novo. Um exemplo disso é a obra "O Hobbit", lançada em 1937 e adaptada para o cinema entre 2012 a 2014. Mesmo com inclusão de personagens e cenas extras no cinema, houve pontos da obra revelados antes do filme ser lançado por blogueiros e podcasters que estragaram a diversão de quem conhecia a obra graças aos filmes.
Soluções plausíveis: crie um blog e escreva resenhas que começe com "contém spoilers" tal qual eu faço do Detonerds ou fazia também no blog Espada, Arco e Machado. No Facebook, crie uma postagem falando "atenção. Vou falar aqui nessa postagem sobre Star Wars. Se não quiser tomar spoilers, não leia" e pule muitos parágrafos até a rede social dar aquele comando em que a pessoa clique no "continuar lendo". Daí o texto só é revelado a quem realmente queira lê-lo. Ou você pode até criar um álbum de resenhas com fotos e o texto que quiser escrever sem deixar de usar o recurso já mencionado. Evite "spoilerizar" em redes sociais que o ocultamento não seja fácil, como Twitter, Instagram ou Whatsapp.


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6 - "Ah, mas o filme já está em cartaz há um mês. Quem não viu, não é fã..."
A frase acima foi dita por um fã de Star Wars supostamente aguado para comentar no Facebook sobre o último filme quando comentei sobre ele compartilhar um spoiler do filme um mês depois dele ter sido lançado.
A pergunta que eu queria fazer (e não fiz, pois ele é um escritor relativamente mais famoso que eu e, portanto, tem um séquito de fãs que defenderiam seu mau caráter): quem é você para julgar quem é fã ou não?
Um exemplo: conheci Star Wars em 2002, quando ia estrear o filme "O Ataque dos Clones". Já assisti aos filmes, joguei ALGUNS jogos (do divertido Angry Birds ao interessante Force Unleashed), li ALGUNS livros e ouvi podcasts sobre a obra. Não sou "mais fã" nem "menos fã" que ninguém. Não tenho obrigação de viver em prol da obra jogando todos os jogos, lendo todos os livros ou assistindo ao filme na pré-estreia. Como cidadão, sei que há leis que devo obedecer. Como integrante de uma sociedade, sei também que tenho tarefas a cumprir. Logo, assistirei aos filmes quando tiver tempo, dinheiro e motivação. Desrespeite e terá o meu desprezo.


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7 - "O Facebook é meu e eu faço o que eu quiser. Você não paga as minhas contas..."
A frase acima também foi dita por outra escritora famosa procurando justificar por que postava trecho por trecho dos episódios do seriado que ela gostava e que eu procurei pedir/reclamar para ela maneirar na "spoilerização".
Para quem pensa assim, aqui vai: o Facebook não é seu. É do Mark Zuckerberg. E uma rede social é um bom lugar para fazer novos amigos, manter contatos com antigos, compartilhar experiências de vida, debater ideias e auxiliar ou ser auxiliado em seus trabalhos. Quando você age como idiota, perde oportunidades de ter amigos ou participar de projetos.

8 - "Você também faz isso..."
Já postei spoiler. E já me arrependi. Pedi desculpas reconhecendo o meu erro e aceito qualquer castigo que as pessoas que prejudiquei quiserem aplicar: fiquem com raiva de mim ou até me desprezem. Reconheço meu erro.
Todavia, faço o possível para, atualmente, me limitar apenas a dizer "gostei" ou "não gostei", ouvir podcasts, conversar reservadamente com pessoas que leram/assistiram/jogaram as obras que gosto e, na dúvida, sempre pergunto: tem certeza que você quer saber o que acontece?

Obrigado a todos(as).

3 comentários:

  1. Achei importantíssimo essa diferenciação de que spoiler não é apenas contar o final de alguma coisa, e sim qualquer ponto de virada da trama, por menor que seja. Vejo muita gente confundindo esse conceito.
    E é aquela coisa, né: atire a primeira pedra quem nunca jogou um spoiler sem querer no meio da mesa. Errar é humano, mas é mais humano ainda aprender com o erro e nunca mais repetir! ;)

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  2. Belo texto. Concordo com cada palavra.
    As pessoas acham que podem definir o que estraga ou não a diversão do outro. Não tomam cuidado e ainda se sentem de "consciência tranquila".

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  3. Muito bom artigo, meus parabéns!!!

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