domingo, 2 de abril de 2017

Logan



Por Davi Paiva

ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!!!

Falar de X-Men nos cinemas não é uma tarefa fácil. A franquia da Fox foi a vanguarda de filmes de super-heróis com o seu primeiro filme em 2000 e foi decaindo pela falta de planejamento em criar uma série, pressão de fãs que queriam mais cenas do Wolverine e menos cenas do Ciclope (reparou o quanto ele aparece no segundo e terceiro filme? Pois é...) e trocas de diretores (X-Men 3, onde Brian Singer sai para a entrada de Bret Ratner) que fizeram a produtora tentar se consertar com “X-Men: Primeira Classe”, de 2011, que colocou mais lenha na fogueira da construção de sua própria linha do tempo, além de desistir de projetos como um filme solo da Vampira ou a origem de Magneto.

Seja como for, é incrível ver como Hugh Jackman nunca foi alvo de crítica dos fãs. Muito pelo contrário. Sua atuação nunca deixou a desejar mesmo depois de fiascos como “X-Men Origens: Wolverine” e “Wolverine: Imortal”, o que gerou uma grande comoção nos fãs com a sentença “já tivemos vários atores atuando como Superman, alguns como Batman e poucos na função de Homem-Aranha, mas sempre teremos somente um Wolverine”.

Infelizmente, estávamos errados.

O anúncio que o filme em 2017 seria o último de Jackman no papel causou grande comoção nas redes sociais indo até em contrapartida à falta de credibilidade que a Fox havia adquirido com seus filmes de super-heróis (salvo as cenas do Mercúrio em “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” e “X-Men: Apocalypse” ou a produção de “Deadpool”) e fez algumas pessoas terem dúvidas se um dos super-heróis mais queridos dos quadrinhos e, por que não, mais admirados no cinema pelo desempenho de seu ator, não seriam feitos de forma digna.

Felizmente, fomos surpreendidos.

Assistimos ao primeiro trailer com a trilha sonora de Johnny Cash e sentimos o peso do sofrimento de Logan na letra da música “Hurt”. Foram 17 anos interpretando o mesmo personagem. Envelhecemos com Logan e a música nos fez ver sobre como James “Logan” Howlett também tinha o direito de ser uma vítima do tempo.

Assisti ao filme no bom e velho cinema do Shopping Center 3 (um dia, espero ser convidado a ver filmes lá. Gosto muito daquele lugar) ao lado de uma namorada que chorou no final. Ouvi opiniões de gente que gostou, de gente que não achou tudo isso e alguns podcasts para compilar o que achei.

E o que achei? Vejamos...

Escolha de elenco: excelente. Dafne Keen é a garota certa para o papel de Laura/X-23 tanto pela idade (se fosse mais velha, não passaria a relação de pai e filha) quanto pela química com os outros atores.

Atuações: excelente. Jackman nos dá um Logan cansado, mas se considerando responsável pelo único amigo que cuidou dele quando precisou e, ao mesmo tempo, o único que restou. Patrick Stewart nos mostra um Xavier que também é alvo de seu próprio poder e Stephen Merchant atua como um Caliban irritado com a sua condição de sensibilidade ao sol e vendo um Logan querendo comprar um barco, porém, ele faz de tudo para ajudar o time quando ele precisa.

Além disso, o filme apresenta vilões que nos causam aquele mal estar de ver que as coisas estão piorando (diferente de um Coringa, que todo mundo adora tanto quanto gosta do Batman).


O Oscar merece esse ator!


Direção: também é muito boa. Enquanto a Marvel-Disney se mantém em filmes com faixa etária para 13 anos e a DC insiste em transformar o Superman em um atravessador de paredes usando terroristas (!!!), a Marvel-Fox toma consciência que alguns de seus heróis são violentos como Deadpool e Wolverine, gerando filmes pesados em termos de palavreado e cenas de ação incríveis.


 Dafne Keen, Laura / X-23, manda muito bem no papel


Roteiro: “Logan” é uma mescla de road movie com obra sobre a relação entre pai e “filha”. Como eu já disse antes, mostra um herói cansado, um mentor quebrado e um aliado que não gosta das atitudes do time, contudo, eles estão ali uns pelos outros.

A inclusão de X-23 é o ponto de ignição que leva a trama a outro patamar, gerando o filme e produzindo cenas de ação e momentos surpreendentes (como na cena em que Laura fala pela primeira vez).

Claro que o filme tem alguns furos de roteiro, como:

• se o adamantium é indestrutível, como o X-24 perfurava a caixa torácica do Logan e como aquele galho varou o tronco dele?

• como aquela bala destruiu a cabeça do X-24, se houve choque de adamantium com adamantium?

• como aquele equipamento agrícola varou o tronco do X-24?

Seja como for, “Logan” não chega a ser um “Esquadrão Suicida”: ter furo no roteiro é uma coisa, mas ter roteiro no furo é outra.

Cenas de ação: se estou sendo repetitivo, é porque elas foram muito boas. Não tenho mais palavras para descrever tamanha qualidade.

Trilha sonora: também é muito boa tanto na escolha das músicas quanto dos trechos instrumentais, que vão crescendo e aumentando a expectativa nas cenas.

Pontos de virada: um dos momentos de maior virada na trama para alguns foi a entrada de X-24 na trama, que era para ser o Dentes de Sabre em uma das versões de roteiro por ser um nêmesis de Logan. Em minha humilde opinião, acho a ideia muito boa (claro que o Dentes de Sabre seria melhor...) porque mostra como o maior inimigo de Logan sempre foi ele mesmo e aqueles que o manipularam para ele ser uma máquina de combate. A grande sacada do filme foi tirar isso de dentro dele e materializar na forma de um inimigo.

Final: as cenas finais de Logan voltando ao seu auge graças à droga que ele injetou nele mesmo fazem o público lembrar com um certo saudosismo que essa será a última vez que veremos Jackman correr e matando inimigos e terminar pulando para cravar as garras no peito de alguém. E eu achei isso muito simbólico.

Mas nada trouxe mais simbolismo que ver o momento antecedendo as mortes de Xavier, após um desabafo sincero e tocante, Caliban, procurando não ser mais uma vítima de seus sequestradores... e Logan, que sente medo e desespero (e transmite isso de forma melhor que os soldados que iam ser mortos por Vader em “Rogue One”), entretanto, não deixa de zelar pelas crianças apenas ordenando que elas corram.

E é claro, seu funeral com as palavras finais de Laura, o garotinho segurando o boneco do Wolverine e a transformação da cruz em X são tudo que muitos precisaram para chorar.
***
“Logan” pode ser considerado o melhor filme da franquia X-Men e, se duvidar, um dos melhores filmes de super-heróis já produzidos. Com ele, Jackman nos dá uma despedida tocante e mostra que nunca pode ser culpado por tudo que a Fox tenha feito de errado.

E agora, vamos em frente, pois mais gente nova está chegando... e mais gente terá que sair.

Obrigado a todos(as).


Que homão da porra! #hetero

Nota: quando o Chris Evans deixar de ser o Capitão América, será a vez do meu primo chorar...

2 comentários:

  1. Olá Davi, em primeiro lugar gostei muito da sua análise do filme. Certamente em uma produção com atuações tão boas é que podemos dizer que foi uma despedida digna de um personagem que ficou tanto tempo no cinema como você mesmo ressalta no inicio do texto. O simbolismo das cenas que você comenta valem mesmo o destaque e ajudam a fazer desse filme um épico em termos de adaptações de quadrinhos.

    Abraço e parabéns pelo texto. Pretendo voltar aqui mais vezes.

    ResponderExcluir