domingo, 29 de maio de 2016

Batman vs Superman: A Origem da Identidade da DC no Cinema





ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!!!

Por Davi Paiva

Batman e Superman. Os dois maiores super-heróis criados nos quadrinhos. Podem não ter sido os primeiros (O Fantasma, de Lee Falk, havia feito sua primeira aparição em 1936 enquanto o Cavaleiro das Trevas é de 1939 e o Homem de Aço é de 1938), mas nem por isso deixaram de ser populares. Já tiveram desenhos animados, seriados, jogos, brinquedos e filmes. Todavia, não havia necessidade de uni-los visto que os dois são marcas altamente lucrativas.
Infelizmente (ou seria "felizmente"?), a Marvel mostrou que era possível unir super-heróis em sequências de filmes. E a DC não podia deixar passar.
Em 2013, O Homem de Aço (quer ver uma crítica que fiz dele? Leia aqui)
O projeto começou aos poucos e com perguntas sendo respondidas: Henry Cavill voltaria? Quem faria o papel de Lex Luthor? Flash e Arqueiro Verde teriam relação com os filmes?
A meu ver, de todas as questões, estava a situação de determinar se o Batman criado na série de filmes de Christopher Nolan estaria relacionado à produção. Ao negarem, surgiu a dúvida: e quem será o Batman?
A comunidade nerd não viu a escolha de Ben Affleck com bons olhos pela desastrosa adaptação de Demolidor aos cinemas em 2003. Apesar das críticas, a promessa foi mantida e o trabalho soava como uma redenção ao mesmo tempo em que tinha bases: Affleck vinha de mais de 10 anos de experiência e um Oscar por Argo (2012).
A trancos e barrancos, procurando surpreender o público com notícias esporádicas (Gal Gadot? Batman com orelhas de pit bull? "Você sangra?"), o filme estreou em 24 de março e já bateu alguns recordes de bilheteria. O que não quer dizer muito em um mundo que o azarão Deadpool supera Cinquenta Tons de Cinza em bilheteria...
Assisti ao filme no Playarte do Center 3 e tive que encarar os primeiros 2 minutos de filme sem áudio nas falas (maldito cinema!), mas o que vi me fez ter a seguinte opinião:
ESCOLHA DE ELENCO E ATUAÇÕES: Ben Affleck se redimiu. Esqueçam sua atuação como Matt Murdock/Demolidor. Infelizmente, ser um ator famoso o fez ficar poucos minutos como Batman.
Outro ligeiro deslize foi a escolha de Jeremy Irons como Alfred. Irons é 24 anos mais velho que Affleck enquanto Michael Caine é 41 anos mais velho que Christian Bale. A pouca distância entre idades não deu aquela relação mordomo-patrão que estamos acostumados a ver nas HQs.


Aposto que o Ben Affleck queria atuar assim o tempo todo...


Um deslize um pouco maior foi a escolha de Jesse Eisenberg para o papel de Lex Luthor. Eisenberg pode ser um bom ator e conseguir criar um personagem gênio megalomaníaco... mas um bom Lex Luthor é maduro, de voz grave, bem vestido e sagaz em cometer crimes sem deixar rastros. Algo que o ator Wentworth Miller (Prison Break, Flash e Legends of Tomorrow) tiraria de letra.
Agora a pior das escolhas, a meu ver, foi a de Gal Gadot para o papel de Mulher Maravilha. Na luta contra o Apocalypse, cada muquetada que ela levava gerava uma expressão sexy. Parecia coisa de filme erótico...
No restante, tudo dentro do esperado: Amy Adams (Lois Lane) e Laurence Fishburne (Perry Black... ops! Perry White!) tiveram atuações discretas e coube a Henry Cavill segurar o drama do filme.


Quem escolheu esses atores? Porrada nele (a)!


FIGURINO: procurando se diferenciar da produção de Nolan, os produtores de BvS deram ao Batman uma roupa cinzenta que só se camufla porque a fotografia do filme é sombria. Mesmo com uma capa digitalizada, o traje do Morcego de Gotham é prejudicado pelas orelhas de pit bull. Estou ciente que aquilo é uma referência à famosa HQ O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, 1986. Contudo, falta o carisma intimidador que o traje de Bale trazia, um legado criado desde 1989 com Michael Keaton.
Outro que derrapou na identidade foi o uniforme da Mulher Maravilha. Com a fotografia sombria do filme, o traje que já era escuro ficou ainda mais estranho. O que a DC tem contra cores?
Uma coisa engraçada: para combater a nudez de Apocalypse nas HQs, a DC colocou nele uma bermuda em sua primeira aparição (1992, na série que levaria à morte do Superman), além de botas para não terem o trabalho de desenhar os pés. No filme, ficou subentendido que o cadáver de Zod foi castrado...
ROTEIRO: não é tudo isso.
Primeiro, temos um Batman sádico que mata ou marca suas vítimas com seu soco inglês incandescente. E o governo aparenta nunca ter feito nada contra isto em mais de 20 anos.
Depois, um Lex Luthor melhor em investigação que o Batman: ele já sabia a identidade civil de Superman, sua relação com Lois e da importância de Martha Kent. Para não falar dos outros meta-humanos...
Em seguida, diálogos que ficaram melhores nos trailers (o "você sangra?" é praticamente ignorado pelo Superman. E faltou um pouco de raiva na expressão de Affleck para terminar o trecho).
Mas esses são pequenos detalhes comparados ao Flash deslocado (o que raios era aquela mensagem para o Batman?!), um Aquaman cheio de pose (por que gastar tanto tempo naquela cena?), a espada da Mulher Maravilha cortar o Apocalypse sem nenhum background, a onda de choque do seu choque de braceletes não afetar o Batman ou o pior de todos: o ato do Superman buscar a lança com kryptonita!
Claro que nem tudo ali foi ruim: a relação dos nomes das mães dos super-heróis foi algo inusitado e ousado, que divertiu bastante. Infelizmente, diversão não faz parte do vocabulário da DC e tivemos que nos contentar com apenas uma piada da mãe do Superman com o Batman...


Chris Terrio e David S. Goyer: os roteiristas babacas


CENAS DE AÇÃO: como o Batman é um humano e Superman é quase um deus, a única opção possível foi se inspirar em O Cavaleiro das Trevas. Para mostrar como o Batman era um bom lutador (e que leva um ou dois socos), a cena de resgate de Martha Kent foi criada.
Infelizmente, faltou planejamento e o Morcego de Gotham se limitou a fugir da visão de calor do Apocalypse e dar apenas um tiro de granada de kryptonita. O resto foi com os meta-humanos...
FINAL: comovente... mas inverossímil dentro da dinâmica criada no filme. Mais uma vez, O Cavaleiro das Trevas foi usado para deixar claro que o Superman sobreviveria a uma explosão nuclear desde que recebesse luz solar. Mas como ele pôde ressuscitar depois de levar uma estocada no peito? Será que deixaram o cadáver no sol?


 Como muitos se sentiram no final do filme...


Portanto, fica aqui a minha linha de pensamento: a DC vê o que a Marvel faz e excuta o oposto. A Marvel tem cores? A DC coloca tudo sombrio. A Marvel usa rock nas trilhas sonoras? A DC deixa tudo nas costas do Hans Zimmer. A Marvel promove seus heróis B? A DC aposta na formação principal da Liga e abdica de usar o elenco de seus seriados (tudo bem que Arrow não anda lá aquelas coisas... mas Grant Gustin faz um trabalho espetacular como Flash. E merecia a oportunidade muito mais que Ezra Miller). A Marvel dá chances a novatos, atores com poucos vínculos no mundo nerd ou atores em fim de carreira? A DC pega atores em seus auges.
É triste ver como uma empresa que passou tantos anos sendo melhor que a Marvel, hoje cria sua identidade procurando ser aquilo que a concorrente não é. BvS é um filme para fãs, como foi alegado quando o filme recebeu baixa pontuação no Rotten Tomatoes. No entanto, creio em minha humilde opinião que esse é um filme para fanboys mesmo: 60% Bruce Wayne, 20% Clark Kent/Superman, 10% de Lex Luthor, 9% de Diana/Mulher Maravilha... e 1% de Batman fazendo o que os fãs mais gostam: bater no Superman.

Obrigado a todos (as).


Pela demissão desse cara... EU VOTO, SIM!

Um comentário:

  1. ^^ sensacional sua crítica sobre o filme, curti muito mesmo, porém eu acho que ficou muito longe de ser algo feito pra fãs, não teve nada relacionado ao roteiro principal, e realmente se o arqueiro e o flash tivessem aparecido, e outra se tivessem seguido a lógica do roteiro original, a história teria um embasamento maior sobre como o batman sendo um mortal conseguiu lugar com o superman, que graças ainda não era um Deus nessa época (pode até ser agora depois do omega)

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