domingo, 25 de março de 2018

Sherlock Holmes – Livros



Por Davi Paiva

Notas:

1 – Este artigo contém leves informações sobre os livros que podem ser considerados spoilers;

2 – Os nomes aqui apresentados são baseados na tradução dos livros publicados pela Editora Martin Claret. Caso você adquira seus exemplares por outra editora, pode encontrar nomes ligeiramente diferentes, como “O Signo dos Quatro” ou “O Sinal dos Quatro”.

Sherlock Holmes não foi o primeiro detetive da literatura policial (Auguste Dupin, de Edgar Allan Poe, havia sido publicado em 1841 enquanto o detetive de Arthur Conan Doyle saiu em 1887) e nem o único, pois depois dele tivemos Hercule Poirot e Miss Marple, ambos da Agatha Christie, por exemplo. Por outro lado, não podemos deixar de reconhecer: ele foi o mais popular.

Tentei ler os livros quando era adolescente e até quando entrei na fase adulta, mas nunca soube por onde começar. Em 2013, tive sorte de ir a um Festival do Livro de São Miguel Paulista onde a editora Martin Claret vendia todos os exemplares com 50% de desconto cada um. Adquiri todos para mim (e até para um grande amigo, que me pagou depois) e os li em 2016, sempre pesquisando a ordem certa de leitura.

Antes de começar a falar dos livros, quero confessar que foi uma experiência árdua, mas magnífica. A literatura policial é um prato cheio para escritores que queiram saber sobre como trabalhar com descrições e narrações com um ponto de vista específico na medida certa, além de Sherlock Holmes ser completamente diferente do personagem retratado recentemente no cinema na sequência de dois filmes estrelados pelo ator Robert Downey Jr.: embora descrito com uma aparência alta e em alguns momentos seja descrito que ele seja capaz de grandes proezas físicas como desdobrar um atiçador sem muito esforço, Holmes é um cavaleiro da justiça com um intelecto sendo o seu maior músculo.

Para você que sempre quis ler os livros do lendário detetive e nunca soube por onde começar, segue abaixo a ordem de leitura acrescida de alguns comentários.


Livro 1


Livro 1: Um Estudo em Vermelho.

Ano de publicação: 1887.

Sinopse: no primeiro livro, ficamos sabendo como o doutor Watson, narrador da obra, conhece o detetive Sherlock Holmes e se aventura pelo mundo do crime solucionado por deduções. O primeiro caso investigado por Holmes na companhia do doutor é uma série de assassinatos por vingança.

Motivo de destaque: o livro é dividido em duas partes. Na primeira, temos a investigação. Na segunda, o autor dá uma volta tão grande para explicar as motivações do assassino que dá a impressão que o leitor está lendo um outro livro. Seja como for, o primeiro livro já mostra ao leitor que tipo de literatura ele vai encontrar.


Livro 2


Livro 2: O Signo dos Quatro.

Ano de publicação: 1890.

Sinopse: no segundo romance do autor, Holmes e Watson investigam um assassinato ocorrido há muito tempo que envolve uma herança e sua herdeira.

Motivo de destaque: é nesse livro que Watson conhece Mary Morstan, sua futura esposa, além da estrutura narrativa dele ser similar a que foi empregada em “Um Estudo em Vermelho”.


Livro 3


Livro 3: As Aventuras de Sherlock Holmes

Ano de publicação: 1892.

Sinopse: coletânea de 12 contos com narrativas que se passam antes e depois do casamento do doutor Watson.

Motivos de destaque: é nele que temos os contos “Um Escândalo na Boêmia”, o único com a participação da icônica personagem Irene Adler, a única capaz de superá-lo; um caso bem esquisito em “A Liga dos Cabeças Vermelhas” e “A Faixa Malhada”, onde vemos o detetive lidar com um mistério em um ambiente totalmente fechado.


Livro 4


Livro 4: Memórias de Sherlock Holmes.

Ano de publicação: 1894.

Sinopse: coletânea de 11 contos com mais narrativas que se passam antes e depois do casamento do doutor Watson.

Motivos de destaque: “O Rosto Amarelado”, onde Holmes tira conclusões erradas (?!); “Glória Scott”, narrado como narrativa de abismo (não sabe o que é? Leia aqui), “O Ritual Musgrave”, com um dos primeiros casos investigado por Holmes; “O Intérprete Grego”, onde conhecemos o irmão mais velho de Sherlock, Mycroft e “O Problema Final”, onde é introduzido James Moriarty, o maior inimigo de Holmes e descrito pelo próprio detetive como “o Napoleão do crime”.


Livro 5


Livro 5: O Cão dos Baskerville.

Ano de publicação: 1902.

Sinopse: Doyle volta a escrever no gênero romance uma narrativa que se passa antes dos incidentes narrados em “O Problema Final”. Holmes e Watson procuram solucionar o assassinato de Sir Charles Baskerville, mas não é nada fácil com um suposto cão sobrenatural no encalço do detetive...

Motivo de destaque: Doyle não mescla o universo místico com o policial (ao contrário de muitos escritores amadores que, infelizmente, estão no mercado...) e faz o seu detetive provar que o misticismo não existe.


Livro 6


Livro 6: O Vale do Terror.

Ano de publicação: 1915.

Sinopse: no último livro no gênero romance de Doyle e com narrativa que ainda se passa antes de “O Problema Final”, Holmes e Watson lidam com mensagens criptografadas, organizações secretas e assassinatos.

Motivo de destaque: devido à fama que Moriarty ganhou, Doyle usa este livro para mostrar como o grande inimigo de Holmes era realmente poderoso.


Livro 7


Livro 7: A Volta de Sherlock Holmes.

Ano de publicação: 1905.

Sinopse: coletânea de 13 contos com trama que se passa algum tempo depois dos incidentes narrados em “O Problema Final”.

Motivos de destaque: “A Casa Vazia”, onde Holmes volta depois dos incidentes de “O Problema Final”; “Os Dançarinos”, no qual o detetive inglês lida com um excelente caso de criptografia e “Os Seis Napoleões”, com um caso tão peculiar quanto “A Liga dos Cabeças Vermelhas”.


Livro 8


Livro 8: Os Arquivos de Sherlock Holmes.

Ano de publicação: 1927.

Sinopse: coletânea de 12 contos publicada três anos antes da morte do autor.

Motivos de destaque: além do belo prefácio assinado por Doyle, a coletânea possui os contos “O Vampiro de Sussex”, onde Holmes mais uma vez terá que encarar o sobrenatural, além de “O Soldado Pálido” e “A Juba do Leão”, contos narrados pelo próprio Holmes.


Livro 9


Livro 9: O Último Adeus de Sherlock Holmes.

Ano de publicação: 1917.

Sinopse: escrito originalmente para ser o último livro de Holmes, é uma coletânea de 8 contos.

Motivos de destaque: “O Detetive Agonizante” nos dá uma trama onde Holmes mostra que sua vontade de combater o crime é inabalável mesmo aparentando estar com a saúde debilitada, além de “O Último Adeus”, onde Holmes, já afastado, volta à atividade durante a Primeira Guerra Mundial.


Curiosidades

• A frase “Elementar, meu caro Watson” nunca foi dita por Holmes nos livros! Foi uma invenção de uma de suas adaptações para peça de teatro. O trecho original é uma fala do conto “O Estropiado” [Memórias de Sherlock Holmes], onde o detetive faz uma dedução da rotina de Watson a qual o médico exclama “excelente!” e Holmes apenas diz “elementar”;

• Arthur Conan Doyle era escocês. Nasceu em 1859 e se formou em Medicina pela Universidade de Edimburgo e foi para Viena se especializar em Oftalmologia. Segundo alguns biógrafos, Doyle escrevia as narrativas de Holmes nos momentos em que não tinha clientela (o que era comum, pois ele não tinha muitos). Já de acordo com outros, as aventuras do detetive inglês foram usadas para pagar contas atrasadas...

• Doyle fugia do estereótipo de escritor que repudia esportes: praticava críquete, golfe, esqui, admirava boxe e ajudou a fundar o time de futebol inglês Portsmouth Football Club em 1884, onde foi o primeiro goleiro (!);

• Dois fatos tornariam Sherlock Holmes diferente do que conhecemos: primeiro, seu nome seria Serringford Hope (“Hope” era o nome de um navio baleeiro que Doyle admirava) se sua primeira esposa, Louisa, Não o convencesse a misturar o nome de seu músico preferido, o violinista Alfred Sherlock, com o de um jurista famoso, Oliver Wendell Holmes. Segundo, ele seria baixo gordo e barbudo graças às primeiras ilustrações do personagem serem feitas pelo pai do escritor, Charles Doyle, um desenhista amador e desleixado. Quando Holmes passou a ser publicado por outra editora, o ilustrador Sidney Paget foi contratado e mudou o conceito para o que conhecemos. Paget alegou que era preciso torna-lo “sexualmente atraente para mulheres, um dândi dos anos 1890” e prometeu criar “um Sherlock Holmes pelo qual todas as mulheres irão ansiar e a quem todos os homens desejarão imitar, com seus trajes impecáveis”;

• Mesmo criando um personagem cético e lógico, Doyle era adepto do espiritualismo chegando a acreditar que Houdini, seu amigo, era mágico (!!!);

• Doyle não viveu somente da escrita das aventuras de seu detetive. Além dos textos defendendo a ideia das tropas inglesas se manterem na África (fato que lhe rendeu o título de “Sir”), ele também é o autor de “O Mundo Perdido”, peças de teatro, poesias, ensaios e materiais sobre espiritualismo;

• Doyle não gostava tanto de Sherlock Holmes. Tanto que até tentou mata-lo, mas teve que lidar com protestos na frente de sua casa, ingleses com braçadeiras pretas e uma editora americana que aceitou engordar a sua conta em troca do retorno do personagem;

• Com a morte de Doyle em 1930, a obra se tornou de domínio público e pode ser publicada por qualquer editora. Infelizmente, há editoras que se aproveitam disso e publicam livros com títulos como “O Vampiro de Sussex e Outras Histórias” para enganar leitores achando que se tratam de obras inéditas;

Concluindo, Sherlock Holmes é um Hércules da Era Vitoriana: um homem que todos os garotos queriam ser e o qual todos os leitores assíduos deveriam conhecer.


Obrigado a todos(as).




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