Por Davi Paiva
ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!!!
Procrastinei a produção deste artigo por muito tempo e tenho um motivo particular, mas que não custa nada revelar: “Vingadores – Ultimato” foi mais que um filme para mim. Foi um evento que esperei muito para acontecer. Não apenas um ano, que foi o intervalo entre “Guerra Infinita” e “Ultimato”, alimentado com petiscos como o divertido “Homem-Formiga e Vespa” ou o grandioso “Capitã Marvel”. Eu sou o tipo de nerd que esperou por algo grandioso assim desde que nasci. Dizer que eu ia ao cinema ver um filme de super-heróis sem ser alvo de chacotas, poder comprar uma camiseta de super-herói sem ser taxado de crianção e poder falar com amigos sobre um filme que eles esperaram 1 ano enquanto eu esperei 32.
Seja como for, decidi escrever o que vi, o que penso e o que senti. Meu primo, dono do blog, nunca me pressionou para escrever este artigo então eu poderia começa-lo daqui a uma semana, um mês ou até um ano. No entanto, depois de ler tantos comentários, ouvir tantos podcasts e ver tantos vídeos de análise ou postagens de Facebook... por que não escrever?
Como este é um filme que só trabalha os personagens já apresentados no filme anterior, decidi mudar o meu formato de análise. Espero que gostem.
Prólogos – quebrando expectativas.
É incrível ver como o roteiro deste filme é tão bom que ele tem DOIS prólogos e ninguém se sente prejudicado.
Primeiro por mostrar a vida do Gavião Arqueiro em sua prisão domiciliar. Um pai de família com uma casa do campo. O que fazer senão passar tempo com a esposa e filhos? E como retratar a dor perda de uma hora para outra senão mostrando como ele vivia e o que perdeu?
Agora sobre o outro prólogo...
Muita gente especulava diversos finais. Alguns diziam que o Thanos iria se arrepender e desfazer tudo, outros diziam que era só tomar as joias dele dando uma surra épica no titã louco e reverter a dizimação de metade da vida do universo, teve gente que formulou teorias que o Doutor Estranho e outros personagens dentro da Joia da Alma poderiam influenciar na batalha no mundo real e eu tenho até um colega de trabalho que insinuou que o Capitão América ia sacrificar o Tony Stark para criar uma sétima Joia do Infinito, que seria a Joia do Ego (?!). Foi cada uma...
Gostei do começo com o Tony no espaço. Primeiro por mostrar seu convívio com a Nebulosa e a expressão de espanto que ela faz quando vence um joguinho amigável (vale lembrar que ela sempre perdia lutas contra a Gamora) assim como gostei do resgate da Capitã parecendo um anjo. A única queixa que tenho é que faltou um toque do James Gunn para incluírem “Space Oddity” na cena...
Tony volta à Terra completamente acabado tanto pelos dias sem comida ou bebida quanto pela experiência traumática de ver as pessoas com quem fez vínculos em Titã morrerem. Sem contar o Peter, que morreu em seus braços. O que abre espaço para os Vingadores restantes planejarem um confronto com o Thanos mais elaborado, com direito a ataque surpresa, imobilização e remoção de seu braço com a manopla. Tudo certo. Certo?
Errado.
Thanos é um vilão tão comprometido com a sua causa que, temendo se arrepender, destrói as Joias. Espetacular. Quebra todas as expectativas de algum confronto e joga a situação em outro panorama. Ainda que não se arrependesse, ele impede qualquer um de desfazer o seu ato. Nem sua morte em um ataque do Thor (que muitos riram, porém, era o começo da manifestação de depressão autodestrutiva na qual o personagem ia entrar mais para frente) muda qualquer coisa.
Um magnífico começo que desfez qualquer ideia de combates épicos logo no começo do filme.
Primeiro ato – todos estão perdidos.
Cinco anos se passaram desde o estalo. O universo pode ter perdido metade de sua vida. Mas os humanos só vivem aqui. E nada melhor que mostrar quantos espaços foram desabitados por conta do desaparecimento de tanta gente.
A Capitã Marvel ficou responsável por limpar a bagunça em outros lugares, como ela já fazia antes. O Capitão América assumiu o posto de terapeuta de seu amigo, o Falcão. Okoye que cuidasse de Wakanda e os demais personagens que resolvessem viver (e vale explicar que o incidente que ela comenta com a Natasha não tem nada a ver com Namor). E na falta de uma vida própria, só restou à Viúva Negra ver o que poderia fazer para ajudar pessoas na base dos Vingadores, como uma supervisora em uma empresa vendo o que poderia fazer pelos seus funcionários independentes.
Por muito tempo, considerei o primeiro ato o mais fraco do filme. No entanto, percebi que ele é parado e disperso justamente para mostrar como o mundo estava.
E toda essa dispersão e tristeza parecia não ter fim até o retorno do personagem mais engraçado, que traria consigo informações que poderiam solucionar tudo...
Eis que o maior herói do MCU chega!
Segundo ato – revisitando a franquia.
Muitos reclamam da intervenção do rato que mexeu no maquinário da van do Hank Pym, mas eu acho que fez um pouco de sentido. Em um mundo tão disperso e abandonado, quais são as chances de um rato ficar zanzando em cima do painel de controle de um portal para o mundo quântico? Uma em 14.000.605?
Seja como for, a atuação do ator Paul Rudd nessa cena foi incrível. Scott Lang é um personagem que inspira diversão e paternidade. Ao lidar com um mundo com tanta gente desaparecida e uma filha cinco anos mais velha, é nítido ver o quanto tudo é muito ruim.
Ao entrar em contato com os Vingadores, Scott dá motivos para todos se reunirem e elaborarem o plano de solução: voltar ao passado, pegar as Joias, fazer um estalo e trazer todos os mortos de volta.
Simples?
Talvez.
Primeiro eles precisam aprender a viajar no tempo. E graças ao Tony, agora casado e pai de uma menina, com auxílio de seu sistema operacional, a solução é encontrada (aqui eu acho que a Marvel perdeu uma ótima oportunidade de deixar a Shuri viva e fazer com que ela encontrasse a resposta, sacramentando-a como a mais inteligente do MCU). Depois precisam lembrar onde estava cada Joia. E entre uma etapa aqui ou ali, descobrimos como está cada um além do Homem de Ferro: Thor sucumbindo a uma depressão e Gavião Arqueiro como um assassino furioso por saber que a sua família morreu enquanto alguns criminosos ainda continuam vivos. É estranho ver como muitos riram do Deus do Trovão, gordo, alcoólatra e triste. Porém, acho que é uma pauta que precisa ser discutida com delicadeza.
Por último, um dos maiores motivos de reclamações dos fãs: a explicação da Marvel sobre viagem no tempo e sua nova regra que matar Thanos não iria desfazer nada que ele já tivesse feito no passado. Para muitos, o correto seria até a Nebulosa do presente morrer quando matou à sua versão do passado. Contudo, vale lembrar: sabemos que a Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 1939 e 1945 com livros de História, certo? E sabemos que não se coloca tomate na salada de frutas mesmo ele sendo uma fruta com um livro de receitas, certo? Ou seja, sabemos o que pode ser feito com fatos. Dizer como a viagem do tempo em uma ficção tem que ser feita com base em outra ficção não é argumento! E o roteiro é tão bom que cita outras obras fictícias.
Joias mapeadas, meios para viajar no tempo já elaborados e testados, além de equipes divididas?
Hora de viajar pelo tempo e homenagear a própria franquia...
• Joias do Espaço, do Tempo e da Mente: como as três estavam todas em Nova York durante a batalha narrada no primeiro filme dos Vingadores (tremendo golpe de sorte, pois a Joia do Tempo fica no templo em Kamar-Taj), os grupos resolveram ir para lá.
Que eu lembre, a Joia da Mente não dá muito trabalho. Já a do Espaço exigiu muita malandragem do Capitão América tanto escapando de um confronto contra integrantes da Hydra/SHIELD quando de uma luta contra ele mesmo (vale lembrar que Steve ficou cinco anos parado enquanto a sua versão de 2012 havia acabado de lutar em um confronto épico e ainda devia estar cheio de adrenalina). Infelizmente, um erro de cálculo não só faz com que eles apostem tudo para buscar a Joia ainda mais no passado quanto também os obrigam a buscar mais Partículas Pym, gerando cenas comoventes tanto para o Steve encontrando a Agente Carter quanto para Tony encontrar o seu pai.
Já a Joia do Espaço gerou um problemão para o enredo. Claro que foi legal ver a Tilda Swinton voltando para a franquia para fazer uma ponta e explicar a necessidade das realidades precisarem de suas Joias. Seja como for, o que poucas pessoas entenderam é que ela não estava falando só sobre linhas temporais como também pela ótica de quem zela pela realidade em conflito contra um multiverso. Creio que a Marvel poderia ter trabalhado melhor o roteiro neste ponto.
• Joia da Realidade: cena muito útil tanto para o Thor se recuperar de sua depressão quanto de ainda dar um jeito de “ressuscitar” o Mjolnir para ele engrandecer um personagem importante mais para frente. Gostei muito da atuação do Chris Hemsworth empunhando o martelo e ficando feliz por ainda se considerar digno.
• Joia da Alma: fazia tempo que eu não via uma cena tão tensa e elaborada entre dois personagens que sabem de suas necessidades e, ao mesmo tempo, temem um pelo outro. De um lado, Clint acreditando que sua morte poderia trazer de volta a sua família e poupando a sua amiga de morrer. Do outro, Natasha acreditando que a sua morte ia trazer de volta a família de seu amigo de volta e poupando o mesmo de morrer. Muitos fãs odiaram a ideia de perder a carismática Viúva Negra em prol do Gavião Arqueiro. No entanto, eu entendi a necessidade: foi pelo amor de amizade e desejo de ver a família inteira que ela se sacrificou.
• Joia do Poder: como criar humor, tensão e continuidade para o terceiro ato? Esta busca é a resposta. Ver o Peter Quill dançando pela ótica dos outros fez o humor voltar ao filme, ver o conflito da Nebulosa do futuro com seu sistema passando tudo para sua versão do passado (e consequentemente ao Thanos) gerou a tensão que fez o Titã Louco voltar à franquia e preparou o estopim para o terceiro ato...
Joias reunidas, lamentos pela morte da Viúva Negra, estalo dado, quase inutilização do Hulk efetuada (tirando o Gigante Esmeralda da batalha para uma possível revanche contra o Thanos) e confirmação das ressurreições, vamos para o terceiro ato...
Terceiro ato – tiro, porrada e bomba.
Thor armado com Rompe Tormentas e Mjolnir, Homem de Ferro e Capitão América. Um trio bem sólido para enfrentar um Thanos sem nenhuma Joia e focado apenas em pegar a manopla feita pelos Vingadores para dar um novo estalo. Desta vez, para reiniciar o universo e recriá-lo de acordo com seus desejos.
Um trio destes não tinha como perder.
Certo?
Errado!
Uma coisa que ficou bem explicada em “Guerra Infinita” é que Thanos é muitíssimo forte, resistente, experiente e calculista. Ele bateu no Hulk apenas com técnicas de artes marciais, soube qual Joia usar contra cada truque do Doutor Estranho em segundos de ações e reações e foi atingido com mísseis, bombas e naves. Por isso o “trio de ferro” da Marvel teve que suar a camisa para enfrentar o Titã Louco em uma batalha que culminou em uma revelação: para salvar o amigo de ser morto por Thanos, o Capitão América usa o Mjolnir! E não só o arremessa e faz combos do martelo com o escudo (apelação aprender a combinar as armas assim de uma hora para outra? Sim. E daí?) como conjura raios e tudo que precisa para impedir a morte do Deus do Trovão.
Imbatível.
Certo?
Errado de novo!
Uma coisa é um ser atacar com técnica. A outra é ele unir técnica com raiva. E quando o primeiro golpe quebra o escudo do Capitão, não há ninguém que não tema pela morte do Sentinela da Liberdade.
Hulk ferido e soterrado com Máquina de Combate, Homem-Formiga e Rocket, Gavião fugindo com a manopla, Homem de Ferro derrubado com Thor e Capitão com escudo quebrado diante de Thanos e todo o seu exército.
Derrota iminente.
Certo?
Errado mais uma vez!
Pois quando tudo parecia perdido, o Falcão pede para que o Capitão olhe para a sua esquerda, onde um portal é aberto. Pantera, Shuri e Okoye saem dele.
E é só o começo.
Doutor Estranho.
Feiticeira Escarlate.
Exércitos de Wakanda.
Magos.
Vespa.
Asgardianos.
Homem-Aranha.
Até Howard, o Pato, aparece com uma metralhadora!
Todos estão de volta, com direito ao Homem-Formiga gigante saindo do soterramento com seus aliados e Pepper usando uma armadura.
O encontro de todas as franquias MCU foi realizado de forma épica!
Uma palavra, um sentimento: eita!
A batalha começa de forma incrível e se desdobra para o encontro de uma Feiticeira Escarlate pistolaça contra um Thanos que nem sabe por que ela o odeia tanto. E quando a derrota do Titã parecia próxima, ele usa um recurso que coloca em risco seus exércitos: metralhadoras de sua gigantesca nave.
Derrota dos Vingadores?
Não.
Pois o sistema de disparo da nave reconhece a ameaça que precisa destruir. E uma ameaça maior está a caminho. Não debaixo, mas de cima.
Capitã Marvel chega, destrói a nave salvando todo mundo e se alia aos Vingadores retirando um desesperado Peter de uma luta sem fim e reunindo todas as Vingadoras (muitos reclamaram de “inclusão forçada”, “lacração” e derivados nesta cena. A meu ver, é melhor incluir ou lacrar que não fazer nada disso. Não se esqueçam que mulheres também assistem aos filmes e elas merecem uma cena!) para completar a missão: levar a manopla para o único portal quântico disponível na van de Hank e tentar tirar as Joias das mãos de Thanos.
Mas como eu disse, Thanos é um vilão muito poderoso. E depois de ver que a Capitã Marvel resiste aos seus golpes, ele faz uso da Joia do Poder para dar um golpe poderoso o suficiente para tirar de vez sua adversária de combate (vale lembrar que a Joia do Poder mata quem a toca. E como disse o Mordo, objetos encantados com magia tornam-se relíquias. Logo, o Thanos teve que se tornar uma relíquia viva para poder dar o soco. E pelo seu grito, foi algo bastante doloroso).
Tudo parecia perdido até Tony, que conversara com o Doutor Estranho sobre o que fazer para que o único futuro onde eles venceriam ocorresse, recebe um sinal do Mago Supremo.
No agora ou nunca, Tony faz o impossível: rouba as Joias da manopla e as usa.
E Thanos, o “inevitável”, é derrotado.
Sem desespero.
Apenas derrotado.
E Tony não suporta o poder do estalo e sucumbe...
Eis que o personagem que não se sacrificava por ninguém, nos fins das contas, aprendeu a dar a vida por algo maior que ele...
Epílogos
O funeral de Tony é muito comovente. O egoísta arrogante que não se importava com ninguém e só queria viver a vida, no fim, se sacrificou por todos.
O mundo vai se restaurando aos poucos. Thor decide acompanhar os Guardiões e passa o comando de Asgard para a Valquíria enquanto todos fazem os preparativos para Steve devolver as Joias e o Mjolnir a seus devidos lugares.
E quando ele viaja no tempo e espaço, depois de cumprir as suas missões, o que o homem que já havia se sacrificado anteriormente resolve fazer?
O oposto de seu amigo.
Levar uma vida normal ao lado da mulher que nunca deixou de amar.
E no final, depois de passar o escudo ao Falcão (a meu ver, deveria ter sido para o Bucky), vemos que ele teve uma vida feliz.
... enquanto o sujeito que deu a vida por um ideal anteriormente aprendeu a levar uma vida normal.
***
Estou terminando de escrever este artigo no começo de agosto. O filme já bateu todos os recordes possíveis. A maior abertura da história do cinema, o primeiro bilhão, o recorde de bilheteria de “Avatar” e tudo que era possível.
O filme já foi comentado em diversos podcasts, vídeos e artigos. Já virou meme, motivo de piadas e material digno de admiração.
Eu poderia ter comentado com mais detalhes algumas coisas como a conciliação da Nebulosa com a Gamora? Sim. O reencontro da Gamora com Peter Quill? Também. Como é estranho imaginar a Nebulosa voltando ao presente e fazendo Thanos viajar tudo com a mesma cápsula de partícula? Claro.
No entanto, como eu disse, este é um filme que decidi escrever o que vi, o que penso e o que senti. E o que vi foi um espetáculo, o que penso é que ele valeu a pena esperar para ser surpreendido só no cinema e o que senti foi vontade de continuar acompanhando este universo maravilhoso para saber quais ameaças irão aparecer e de formas elas serão derrotadas.
Porque é isso que os heróis fazem.
Eles vencem o mal.
Obrigado a todos(as).
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