segunda-feira, 11 de julho de 2022

Perguntas e Respostas Mais Comuns sobre Minimalismo




 Por Davi Paiva 


 Sabem quando dizem que antigamente o mundo era mais simples? De fato, ele era. Mas isso se devia a não termos tantas opções como hoje. Roupas? Ou eram para dias frios ou quentes. Cosméticos? Um creme hidratante já era um luxo. Itens colecionáveis? Uma coleção poderia levar décadas para ser concluída.

 Hoje as coisas mudaram. É possível você ter uma roupa para ir trabalhar, uma para ir à igreja em dias quentes, uma para um encontro com a namorada em um Outback e outra para ir à academia em dias frios. Também é possível ter um shampoo, um condicionador, um creme para o rosto, outro para as mãos e outro para o corpo todo (sem contar algum para momentos específicos, como os pós-barba). E o mercado faz relançamentos de produtos que valorizam ou desvalorizam os que foram adquiridos na primeira versão, bem como os famosos “itens de colecionador” que viram uma febre entre quem esteja inserido no meio no qual eles foram lançados.

 Isso é bom ou ruim?

 Depende.

 Ainda que o poder de compra tenha se igualado em determinados períodos políticos ao ponto de espaços serem frequentados por diferentes classes sociais, não houve discernimento entre o que era desejo e o que era necessidade. E pessoas de baixo poder aquisitivo sonharam mais alto do que podiam pagar e se meteram em dívidas para comprar produtos que mais tarde ficaram acumulando poeira em suas casas. Além disso, o meio ambiente não tem dado conta de fornecer matéria-prima para tanta gente e já é estimado que se todos os países consumissem como os mais ricos do mundo, precisaríamos de outro planeta em poucos anos. Sem contar que o aumento de clientes também fez com que muitas empresas abrissem mão da qualidade de seus produtos, gerando modelos com recursos limitados ou até a obsolescência programada.

 Por isso algumas pessoas têm aderido ao estilo de vida minimalista, Ele ajuda tanto na questão econômica quanto ambiental e organizacional.

 Para aprender e também escrever este artigo, tive que ver documentários, canais do YouTube e ler alguns livros. Originalmente escrevi este texto apenas com o material audiovisual e a versão que publico aqui já conta com o que aprendi nas leituras. Fiz até uma enquete no meu Instagram para ajudar a obter algumas perguntas.

 E aqui estão todas, bem como as respostas.


 O que é o minimalismo?

 Originalmente o nome dado a um movimento artístico, é a prática de você só ter posse do mínimo e essencial necessário para a sua vida e fizer novas aquisições mediante avaliação pessoal sobre por que quer, como vai pagar e se tal produto realmente terá utilidade em sua vida.


 E qual é o mínimo necessário? 

 Depende de você. Se você tem 25 camisetas e 10 não lhe servem mais ou você comprou e não fez uso, você doa ou vende e fica só com as 15 que forem realmente necessárias para você. Isso já é minimalismo. 


Uma pessoa que consiga viver apenas com isto é tão minimalista quanto alguém que viva com menos. 


 Não há um padrão para minimalismo. Não se pode dizer “a partir de N peças de roupa, a pessoa pode ser considerada minimalista” ou “sua biblioteca particular lhe impede de ser considerado um minimalista.” 

 Há pessoas que trocam de casas para morar em casas menores porque percebem não ter necessidade de lugares tão espaçosos, há quem se desfaça de produtos de cozinha porque não vê necessidade de tantos pratos e talheres se mora sozinha ou recebe no máximo 3 ou 4 visitas de uma vez, há que venda ou doe os livros que leu por perceber que os adquiriu em diferentes fases da vida e também há quem viva com apenas duas malas e um notebook, nem fazendo questão de ter uma moradia fixa. Todos podem ser considerados minimalistas se tudo que possuem é o que lhes deixam felizes. 


 ‘O minimalismo é um estilo de vida anti-consumo? 

Não. O consumo consciente é uma prática de muitos minimalistas. Comprar se tiver necessidade e meios para pagar sem dificuldades, bem como ter utilidade do produto ou serviço na sua vida, é uma ação muito comum. 


 Minimalismo quer dizer voto de pobreza? 

Não. Quer dizer apenas que a quantidade de pertences que uma pessoa possui vai atender às suas necessidades. 

Por isso, se uma pessoa ganha a vida fazendo resenha de livros e aproveita os espaços em sua casa obtidos com minimalismo para comprar mais livros e ler/resenhar, ela não deixa de ser minimalista porque tais livros possuem função e utilidade em sua vida. Claro que ela pode ler 10 livros, resolver doar 7 e ficar somente com 3 que mais lhe agradou tanto quanto ficar com todos os 10. Aqui, menos é mais. 


 Quem criou isso? 

 Eu não posso dizer que há um criador. Embora os escritores Joshua Fields e Ryan Nicodemus sejam os nomes mais fortes no mercado por conta de seus produtos (livros, documentários, palestras e até podcasts), o próprio livro de Joshua, Tudo o que Importa , mostra que ele conheceu o minimalismo e não que o criou. 


Joshua Fields e Ryan Nicodemus. 


 Além disso, temos nomes de peso que falam sobre a prática ou de forma mesclada com outras áreas (principalmente de investimentos) como Francine Jay com Menos É Mais , Marie Kondo com A Mágica da Arrumação , Ana Bochi com Realize Seus Sonhos Gastando Pouco ou Gustavo Cerbasi com A Riqueza da Vida Simples. 

 E para quem curte vídeos, a maioria desses nomes que eu falei também são de produtores de vídeos. Na dúvida, temos Pinho e a Blogueira de Baixa Renda , que falam sobre a prática. 


 Qual a utilidade ou vantagem de ser minimalista? 

 Uma das principais vantagens de quem procura ser minimalista é não se preocupar com tantos produtos porque só se possui o que realmente for necessário. Uma pessoa comum pode se preocupar com o fato de ter mais livros do que tempo para ler, por exemplo. Já o minimalista sabe que as obras que possui são as que vai ler ou já leu e sabe que pode consultar em caso de necessidade ou também podem ser as que realmente quer manter em sua coleção. 

 Outra vantagem é que ter um consumo controlado ajuda na questão econômica. Se você tem 15 camisetas e pode viver sem dificuldades, não vê necessidade de comprar a 16ª e ainda guarda o dinheiro para alguma emergência ou mesmo fazer algum investimento. A maior parte dos nomes que citei anteriormente são de investidores. 

 E uma das vantagens mais práticas de quem procura ser minimalista é ter uma casa mais fácil de limpar e contar com recursos. Afinal, com poucas roupas e móveis, por exemplo, você sabe que pode limpar um armário com mais facilidade do que uma pessoa que tenha muitas roupas em mais de um armário. 


 E como fazer? 

 Eu, particularmente, gostei muito do método KonMari, da Marie Kondo, para começar o processo de redução de itens para se ter somente o necessário. A partir de tal método, vou mesclar com o que aprendi de outros autores. 


Marie Kondo: a “KonMari” unindo organização e minimalismo.


 • Roupas

  As roupas são muito importantes em nossa sociedade e começar por elas é uma ótima forma de começar a se autoavaliar e aprender a se desapegar das coisas.

 Reúna todas as suas roupas em um só lugar. Pegue cada uma. Veja se tocar nela lhe traz felicidade ou tente se lembrar qual foi a última vez que a utilizou.

 Se ela não lhe serve mais, doe ou venda. Se ela está tão velha que você não gosta nem de ficar com ela em casa, doe ou jogue fora (e aqui cabe um adendo que aprendi com livros: por mais que você more sozinho ou tenha as “roupas de ficar em casa”, não precisa se vestir como se tivesse voltado de uma guerra. Usar roupas bonitas e confortáveis mesmo em casa afetam a nossa autoestima e nos fazem se sentir bem).

 Se você a adquiriu e usou por poucas vezes, o seu objetivo era apenas de ter a posse desta peça. Não de fazer o seu uso. Logo, ela já cumpriu a missão de lhe pertencer. Então doe ou venda.

 Se for uma roupa usada em ocasiões especiais como uma roupa social, por exemplo, você pode avaliar quantas vezes vai a lugares em que elas são exigidas e se precisa realmente de tal quantidade. Um advogado ou membro ativo de uma igreja, por exemplo, são pessoas que precisam de ternos, camisas e calças sociais. Um enfermeiro, em outro exemplo, precisa de muitas roupas brancas. Uma pessoa que more no sul do país, onde faz mais frio, precisa de agasalhos pesados. Se você não se encaixa em nenhuma dessas categorias, pode avaliar se precisa de quatro ternos, seis agasalhos pesados ou sete calças brancas (sendo que só usa 1 ou 2 por mês, no máximo) e doar ou vender tudo.

 Se for uma roupa de alto valor sentimental, como um vestido de noiva ou o seu primeiro jaleco do curso que você fez, há várias formas de lidar com ele: lembrar que você tem fotos com tal peça, guardar só um pedaço do tecido ou realmente avaliar por que quer manter tal roupa em seu acervo, visto que ela pode estar muito velha, empoeirada ou desgastada. E se lhe dá trabalho manter, entra a velha máxima: você tem as coisas e não as coisas que têm você. Doando ou vendendo, estará ajudando outra pessoa a realizar o sonho que você já realizou.

 Algumas pessoas gostam de aproveitar o momento para avaliar seus armários e definir suas roupas a um padrão. Assim só adquirem o que realmente gostam de usar. Vai parecer que você só tem uma roupa, mas acredite: gente muito famosa faz isso e recomenda porque assim se gasta menos tempo escolhendo roupas e pode se dedicar a outras atividades.

 O que não quer dizer que isso seja uma “regra do minimalismo.” Se você quiser, pode ter suas roupas coloridas ou variadas entre camisas sociais e camisetas de bandas de rock. É só uma oportunidade de se autoavaliar e fazer com que uma nova versão de você possa dar as caras no mundo.

 E nas próximas aquisições tanto de roupas quanto de qualquer outro item que vamos listar, você pode fazer as seguintes perguntas a si para refletir:

 1. Quero? Por quê? Está com um ótimo desconto, é uma peça difícil de achar, o marketing do vendedor é muito bom, está comprando de forma consciente ou está em uma má fase e acha que a compra vai lhe deixar com uma autoestima melhor, etc.

2. Posso pagar? Não adianta se matar de trabalhar para depois se acabar comprando produtos que aliviem, a curto prazo, o sofrimento que você passa no trabalho e depois, na hora de pagar a fatura do cartão de crédito, você precisa fazer longas jornadas de hora extra ou até um bico nos dias de folga. 

3. Preciso? Por quanto tempo? Há uma grande diferença entre querer algo e precisar de algo, bem como o tempo que tal produto novo lhe será útil. Um terno que você vai usar para ir a um casamento é diferente daquela calça jeans que você só comprou para repor aquela que rasgou na semana passada. E se tal produto não é necessário em sua vida, você pode avaliar muito bem se vai querer desperdiçar todas as suas horas trabalhadas para obter o dinheiro que gastará com tal produto.


 • Livros e revistas

  Agora que você já viu com quais roupas vai ficar e quais foram descartadas, doadas ou postas à venda, hora de olhar seus livros e revistas.

 O mercado capitalista não é bobo e sabe que fomentar a ideia de se ter mais livros do que tempo para ler é ótimo para os negócios. Qualquer pessoa que queira parecer inteligente vai gravar um vídeo com uma prateleira ou uma estante cheia de obras. Algumas novinhas em folha, outras padronizadas como capas de enciclopédias e ainda os famosos boxes com séries literárias ou coleções do mesmo autor.

 Quem sai perdendo com isso? O consumidor, que paga por livros que nem sempre lê e que é induzido a ter cada vez mais.

 Uma pessoa passa por diferentes fases na vida. E a adolescência é a maior delas. Talvez você não goste mais de futebol como gostava quando era criança e ainda guarde uma revista sobre o campeonato que o seu time ganhou, também deve ter tido aquela fase entre os 16 e 18 anos quando se interessou por basquete e até comprou um Onze Anéis (que não é um livro sobre minimalismo, mas merece uma indicação ) e nunca leu, também comprou aquelas revistas para aprender a desenhar e a sua carreira não foi para a frente, se aprofundou em sua religião e guardou todos os livros sobre ela, mesmo sabendo tudo que há neles de cor e salteado...

 Vender livros por um preço acessível é uma ótima forma de ajudar pessoas a adquirirem os exemplares que você possui e não quer mais a terem acesso a tais obras e ainda ter algum ganho financeiro. Se quiser doar e conhecer alguém que não vai dar uma de espertinho e vender sem ler, é melhor ainda.

 Você pode até dizer “ah, mas um dia eu vou ler.” Só que aí entramos na mesma questão das roupas: se não teve necessidade até hoje, pode vender ou doar sem problemas.

 Na dúvida, pode criar uma lista de “ler antes de doar/vender” e colocar estes títulos na frente de todos. Se eles realmente lhe trouxerem a informação que você precisa para o seu cotidiano ou a felicidade de uma boa leitura, pode tirá-los da borda do precipício. Do contrário, passe para frente.


 • Itens

 Resolvido o seu problema com roupas, revistas e livros? Hora de ver outros itens.

 Por “itens” você pode classificar qualquer objeto da sua casa que não seja nada do que foi listado antes: do seu videogame com controles e jogos aos DVDs e Blurays, Action Figures, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, ferramentas, louças, etc.

 Alguns produtos podem ser substituídos com estratégia: se seu computador tem uma ótima capacidade de processamento e dá trabalho ter que limpar aquele seu Super Nintendo que só funciona porque você só o liga uma vez por ano, se desfaça do aparelho velho e fique com os seus jogos preferidos (só os preferidos) em um emulador.

 Você tem DVDs e Blurays, mas não viu os extras até hoje? Então não deu por falta deles. Se o propósito de uma mídia é apenas você poder ver um filme nela, um streaming resolve. Veja quais filmes estão no seu streaming preferido e doe / venda / descarte as mídias que possuir. E no caso de CDs, nem preciso falar, certo?

 Uma pessoa troca de celular e mantém o anterior em casa para ter um reserva caso o primeiro quebre. O problema é que quem melhora a sua tecnologia raramente volta aos modelos mais simples. Então aproveite o momento e veja se aquele seu celular antigo não pode ser usado na compra de um novo ou mesmo descartado em um lugar seguro, visto que as baterias possuem componentes tóxicos e que fazem mal ao meio ambiente.

 As Action Figures e outros tipos de bonecos são para o nerd o que o Michael Jordan é para o basquete. Quem não gosta de ter um Funko do Demogorgon ou do Homem-Aranha para colocar de cabeça para baixo? Ou uma Action Figure do Yasuo para colocar em uma prateleira no fundo de seu quarto e passar a imagem aos seus amigos que você é um jogador de League of Legends com bom gosto durante uma live? Tudo isso é muito legal... quando não custa caro, quando não exige um espaço grande, quando você não tem que limpar a cada 2 meses e quando você não tem crianças em casa e vive preocupado pensando se aquele jovem inocente não vai correr pela casa e derrubar, acidentalmente, aquele seu item precioso que custou mais da metade do seu salário. Não seja um refém de seus próprios pertences e reveja o que quer e o que realmente precisa.

 E no caso de outros itens, você pode avaliar se a quantidade de pessoas que recebe em casa é proporcional ao número de pratos e talheres que possui em casa, se algumas de suas ferramentas são tão úteis ou se não pode pedir emprestada a algum vizinho ou até se a sua TV é algo que você goste de assistir ou se seu computador não pode fazer a função. Há casais de namorados em que um se desfaz da TV por perceber que gosta de assistir a programas na companhia do parceiro. Assim ambos curtem um programa juntos e quem ficou sem o aparelho tem uma coisa a menos a se preocupar.

 E é claro, nunca deixe de olhar aquela “gaveta da bagunça” que todo mundo tem e avaliar aquelas cartelas de remédios vencidos, chaveiros nunca utilizados, canetas que falham com frequência, cabos de celulares (cujos aparelhos nem sempre você ainda possui), brincos e colares que parou de utilizar e perdeu o gosto por eles, etc.


 • Papéis

 Por mais que a era digital esteja presente em nossas vidas, o papel ainda se faz igualmente presente e que pode ser ponderado se é útil manter ou se pode ser descartado. Dos cadernos de escola e cursos aos panfletos que pegamos nas ruas, passando por manuais de aparelhos, catálogos, notas fiscais, cupons, cartas, comprovantes, contas, contratos, holerites, cartões de lojas, folhetos religiosos, etc.

 A forma mais fácil de lidar com eles, além da tática “reunir tudo no mesmo lugar, avaliar o que deve ficar e descartar o resto” é sempre fazer aquela limpeza diária na carteira, mochila ou bolsa depois que você voltar do trabalho. Pegar o panfleto de uma ótica, por exemplo, ajuda o dono da loja a ter o seu trabalho divulgado e o entregador a garantir o seu sustento. No entanto, se a sua vista está ótima e as informações daquele panfleto não forem úteis para você ou algum parente ou amigo, o papel já cumpriu a sua missão e pode ser descartado.

 Contratos podem ser importantes de serem guardados, bem como contas cujas vias você não altera para receber via e-mail (é mais fácil de guardar!) e certificados de cursos. Caso necessário, digitalize o que precisar e jogue fora o resto (lembrando que alguns papéis podem precisar ser picotados antes de serem jogados no lixo por terem informações confidenciais).


 • Presentes e objetos de valor sentimental

 A nossa sociedade valoriza muito os presentes. Algumas pessoas se sentem bem presenteando até mais do que sendo presenteadas.

 No entanto, essa necessidade de presentear é mais uma das oportunidades que o capitalismo se aproveita para ganhar dinheiro e deixar os clientes com o desejo de comprar produtos que nem sempre podem pagar tranquilamente (ou seja, sem fazer várias parcelas no cartão) para pessoas que nem sempre precisam de tais produtos, de fato.

 Vamos pegar o exemplo de um casal: o aniversário é uma data para presentear a pessoa tanto quanto o aniversário de namoro, o Dia dos Namorados e o Natal. Com mulheres ainda temos o Dia da Mulher e o Dia das Mães se ela for mãe da mesma forma que o Dia dos Pais caso o homem tenha um filho. Repare quantas datas temos para compras e vai concluir que cada data “exige” um produto para demonstrar o quanto você ama alguém.

 Exige mesmo?

 Uma camiseta ou um colar não vão lhe representar para a pessoa amada. Você se representa para a pessoa amada pelo que é. E se a conquistou e a cativou, foi pela sua pessoa e não pelo seu poder aquisitivo. Em vez de comprar um produto que ache que a pessoa vai usar, por que não a leva a um passeio, um almoço em algum lugar que queiram muito ir ou guarda o dinheiro para uma viagem especial? Momentos não ocupam espaço, não são pesados de carregar e não exigem manutenção periódica.

 Isso quer dizer que você não pode presentear quem você ama? Claro que não. Se quer, presenteie. Só quero que veja como produtos são apenas objetos que dependendo de como é a vida da pessoa, ela mesma poderia comprar. Agora a sua companhia em um momento especial está além de qualquer catálogo de qualquer loja.

 E o que fazer com os presentes que você recebeu?

 O mesmo que você faz com os pertences que você mesmo comprou: reúna junto a outros da mesma categoria (roupas, livros, itens, papéis, etc.) e veja o que pode ser jogado no lixo, doado, vendido ou que ainda pode fazer parte do seu acervo por ainda ter utilidade.

 Sei que muitas pessoas podem falar que isso é frieza ou ingratidão, mas por que você precisa ficar com aquele violão que o seu tio lhe deu depois que você parou de aprender a tocar? Só por ele ser o seu tio? Se você realmente gosta de seu tio, sabe que ele é muito mais que um violão e doar ou vender o instrumento para outra pessoa pode ajudar alguém a realizar o sonho que você deixou de ter.

 Na dúvida, use o produto uma ou duas vezes e tire fotos para lembrar que já o teve.

 Ao ficar somente com o que for útil e importante para você, você passa para frente produtos que podem ser úteis e essenciais na vida de outras pessoas. E assim todos saem ganhando.


 E depois que eu me desfizer do que não preciso, posso aproveitar os espaços vazios para comprar outras coisas?

Se tais coisas forem realmente úteis e importantes para você, sim. Na dúvida, você pode ponderar se a quantidade de itens que possui não atende às suas necessidades e só fazer novas compras quando um dos itens for danificado ao ponto de não poder ser mais consertado. Exemplo: se a quantidade de camisetas que você tem é o suficiente para você, só compre uma quando for se desfizer de outra. É o clássico “entra um, sai um”.


 E qual é a graça de viver passando vontade de ter coisas? 

Viver uma vida simples com somente o que é necessário tem muita graça. Começando pela graça de ter mais chance de sobrar dinheiro porque você vende o que não usa e/ou não gasta com o que não precisa. Também tem a graça de ter uma casa mais fácil de limpar. Ainda tem a graça de não correr o risco de perder nada por falta de uso, pois o pouco que você tem é, de fato, útil para você. E ainda tem a graça de você viver de acordo com suas condições financeiras, não se matando de pagar compras parceladas em N vezes. Se até pessoas com poder aquisitivo ponderam sobre o que compram (pense em algum artista, atleta ou pessoa envolvida em negócios lucrativos: qualquer um poderia torrar toda a sua fortuna em mansões, carros esportivos, iates e artigos de luxo. Mas já parou para pensar por que não fazem isso? Pois é), por que você não pode ponderar?


 E se um dia eu precisar do produto do qual me desfiz?

Esse é um medo muito comum de pessoas que não têm muito na vida e temem se desfazer de algo porque não sabem se um dia vão precisar daquilo.

 Claro que em casos mais graves, gera pessoas acumuladoras que precisam de um tratamento especial. Como não é o foco deste artigo, vamos falar apenas dos casos mais simples em que pessoas temem ficar sem um ou outro item por crerem que vão precisar dele mais para frente.

 Se você não precisou de tal produto até hoje ou nem lembrava que o tinha, as chances de se desfazer são muito grandes. Na dúvida, doe ou venda para uma pessoa próxima e quando precisar, pegue emprestado (mas devolva. E se quiser demonstrar gratidão e que é de confiança, ofereça um agrado como uma porção do seu bolo feito na forma do vizinho que lhe emprestou a dele ou com brocas novas para o seu irmão que sempre lhe empresta uma furadeira, por exemplo).

 Uma outra tática é manter o produto em uma quantidade mínima. Ter um terno e uma calça social, bem como uma ou duas camisas sociais, é uma prática comum tanto quanto ter pelo menos um par de jaquetas pesadas para ter o que vestir quando o inverno for severo. E isso é muito bom caso você já tenha três ternos, quatro calças sociais, sete camisas sociais e cinco jaquetas pesadas...


 Como lidar com o dinheiro que gastei no produto que vou descartar? 

 Essa é uma das maiores desvantagens do dinheiro mal administrado: gastar com coisas que não são úteis, necessárias ou importantes.

 Quanto mais cedo você aceitar que gastou dinheiro com roupas, livros e ferramentas desnecessárias, mais fácil vai desenvolver um autocontrole e poderá rever os seus gastos seguintes. Além disso, alguns produtos podem ser vendidos e ajudar a repor parte do valor gasto (nem tudo pode ser revendido pelo valor de nota fiscal pelo tempo de uso).

 E quando você doa um produto para uma pessoa que necessita dele, vai ganhar algo que está além do dinheiro: a lembrança que ajudou alguém. Nem nascer foi algo que você fez sozinho. Então por que não ajudar alguma pessoa de vez em quando?

 
Existem tipos de minimalismo?

 Sim. Como o minimalismo não tem um criador e surgiu em diferentes partes do mundo, cada um foi criando um conceito e um objetivo que alcança sendo minimalista.

 Há quem seja pela questão ecológica. Outros gostam do estilo de vida pela questão econômica. Uns preferem ser minimalistas pela praticidade de se limpar a casa e outros são minimalistas porque não querem se prender a lugares fixos, podendo se mudar para onde quiserem e viverem lá pelo tempo que desejarem.

 Para maiores informações, leiam este artigo com estilos de vida minimalista. Lembrando que nem tudo na vida é cara ou coroa. Logo, você pode ser minimalista por mais de um motivo.

 
 OK. Me desfiz de produtos e controlo minhas aquisições. Tenho como estender o minimalismo para outras áreas, além de posses? 

 Claro que tem. O minimalismo, a priori, trata de posses. Mas como hoje ter posse vai além de um produto físico, você pode aplicar em outras áreas, mais de acordo com o livro Essencialismo:

 • Alimentação: é possível rever o que você consome diariamente e passar a dar preferência a produtos mais saudáveis, como salada e/ou reduzir o consumo de fast foods;

 • Aplicativos e softwares: se um aplicativo perdeu utilidade para você ou se um programa de computador não é tão necessário visto que outro atende aos seus desejos, desinstale e poupe a memória do seu dispositivo;

 • Arquivos: postou fotos do seu passeio nas redes sociais e elas não são importantes como o casamento do seu melhor amigo? Apague do seu celular ou computador. O mesmo vale para arquivos em seu PC que, de fato, não são mais tão importantes assim de você ter. Eu, por exemplo, tenho deletado todos os contos que li para organização de antologias e serviços de leitura beta que peguei. Sei que são só arquivos de Word e consomem menos memória que um filme. Mas cada um que eu deleto é menos um a desviar a minha atenção quando preciso mexer no computador. Na dúvida, tudo está salvo nos e-mails que troquei com os autores (que por sua vez, também ficam organizados em pastas);

 • Convívios e amizades: o debate político, religioso e cultural gerou polarizações que acabaram em conflitos em alguns meios. E se você não tem obrigação de manter contato com algumas pessoas que considere prejudiciais ou tóxicas, corte-as de seu círculo de convívios. Não precisa fazer isso com grosseria. Pode simplesmente preferir bater papo com outras pessoas no lugar e naturalmente ela pode se tocar que não é mais bem-vinda na sua vida. Se necessário, exponha o motivo de seu afastamento de forma civilizada e continue investindo tempo e esforços com quem você acredita que possa ter bons momentos;

 • Redes sociais: não só é possível eliminar algumas redes sociais que você não use como também delimitar o tempo que passa nelas ou onde está inserido. Sair de determinados grupos de WhatsApp ou Facebook, parar de seguir páginas ou pessoas no Instagram que não agregam nada na sua vida, cancelar assinaturas de newsletters, remover inscrições de canais do YouTube ou silenciar notificações de vídeos novos e só assistir quando quiser de fato, etc.;

 • Serviços e trabalhos: se você trabalha em algum lugar em que ganhe por produtividade, trabalhe até garantir o seu sustento e depois é só ir administrando o serviço tranquilamente até o dia do balanço da produtividade. Se o seu patrão reclamar, fale o que pensa. Na dúvida, procure outro emprego em que possa ter flexibilidade ou peça transferência para um setor onde possa ter mais paz do que a cobrança de alcançar metas que não são suas. Agora se trabalha em um lugar de salário fixo em uma função, o famoso “vestir a camisa” e fazer além do que mandam é totalmente opcional ou deve ter algum ganho negociável (e você tem que querer aquele ganho);

 • Uso de tecnologia: os celulares conseguem fazer a maioria das funções de um computador, ocupando menos espaço e sendo mais portáteis. Logo, o uso de um PC de mesa, notebook, tablet e celular precisam de autoavaliação e o que não passar por este filtro pode ser descartado.


 Sou pobre. Ainda posso ser minimalista?

 Sim. Na verdade, como diz a Blogueira de Baixa Renda de forma bem humorada, a pessoa pobre já nasce minimalista porque não pode almejar muita coisa.

 A pobreza é uma questão muito abrangente que vai da miséria ao trabalhador bem remunerado que não aceita ser pobre sem ter noção que, caso pare de trabalhar, não tem como manter o seu estilo de vida (um mega empresário pode vender todas as suas empresas e viver apenas de juros da conta poupança. Agora o seu amigo arquiteto que gasta tudo que ganha pode morrer de fome se for demitido e nunca mais arrumar nenhum emprego).

 Por isso, por mais que você seja pobre e trabalhe para criar o seu filho, a doação de 1 ou 2 brinquedos dele para uma família carente com uma criança que não tenha nenhum brinquedo ainda será um ato de generosidade e de oportunidade para aqueles que não conseguem nem o pouco que você possui e lhe é supérfluo.


 Tentei ser minimalista para alcançar uma felicidade que não tenho e não fui feliz. A culpa é do minimalismo?

 A vida minimalista é uma forma de se alcançar a praticidade, a economia ou até a paz de saber que os seus pertences são os necessários para a sua vida. E uma forma não é uma fórmula.

 Há várias formas que se tratar uma infelicidade ou sensação de vazio que não estão nem no consumo desenfreado e nem no minimalismo. De uma autoavaliação sobre o que está lhe afetando e a busca para solucionar o problema por conta própria à prática de meditação, passando por tratamento psicológico ou até se oferecer para trabalhos voluntários em comunidades carentes (oferecer ajuda a pessoas mais necessitadas exercita a sua empatia e afeta a sua autoestima, fazendo você se sentir útil e importante), as suas questões internas podem ser resolvidas. E quando quiser uma vida mais simples, o minimalismo estará lhe esperando.

 
E a minha família? Como conviver? 

 Depende de como é a sua relação com eles e de quanto espaço você possui para ser como quer.

 Se você é criado em uma família que quer controlar os seus hábitos, pode tentar conversar ou resistir aos desejos deles até eles cederem e verem que você não quer ser definido pela quantidade de objetos que possui. E é mais fácil se impor quando você tem o seu espaço e conforme o grau de independência que ele lhe confere, do próprio quarto ao sobrado no terreno ou talvez a sua própria residência.

 Agora se você já casou e constitui família, tem mais poder de tomar decisões sobre a criação de seus filhos e da administração do seu lar (embora o seu companheiro(a) também tenha poder de voto. Não seja um ditador!). Sei que não é fácil criar uma criança com princípios minimalistas porque a família e a sociedade adoram “estragar” os jovens incutindo desejos neles ou até lhe presenteando com produtos supérfluos. No entanto, ainda é possível educar todos para serem melhores.

 Com as crianças é mais fácil: eles fazem o que você faz e aprendem com você. Logo, se virem que você não é uma pessoa consumista ou que raciona a quantidade de pertences, poderão aprender você e terão um modelo de prática.


Se uma criança aprende o que sabe com os adultos ao redor, por que ela não pode ser minimalista?


 Já um companheiro(a) tem maturidade e personalidade já desenvolvida. Como ele é um igual em termos de capacidades, você pode ter uma conversa de adulto e ponderar sobre a vida a dois ser muito mais do que consumir. Na dúvida, leia o livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos e veja como o seu perfil (que provavelmente, será o de um Poupador ou de um Financista, nas palavras do autor) lida com outro que não seja o seu. Se a relação ficar muito difícil, parta para o plano B: rompa e desde o começo da nova relação, mostre o seu estilo de vida minimalista e que não almeja sair dele.

 * 

   É isso. 

 Como podem ver tanto pelo tamanho do texto quanto pela quantidade de hiperlinks, há muito o que se dizer a respeito de consumo, estilo de vida, economia e meio ambiente. E tudo isso tem a ver com o minimalismo.

 Ele não é perfeito. Com cada um dando a sua interpretação, gafes e visões simplistas podem aparecer. Seja como for, a essência do minimalismo ainda é muito válida:

 “Ame pessoas e use coisas. O contrário nunca dá certo”.

  Obrigado a todos(as).

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