Por Davi Paiva
ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!!!
As peças já estavam todas no tabuleiro e com seus devidos usos: Superman desgastado pela visão do Snyder e pela Warner que não sabe apagar um bigode digitalmente. Batman também detonado pelo Snyder e pelo Whedon, além do cansaço de Ben Affleck na atuação. Gal Gadot salvando o universo cinematográfico graças ao carisma e as boas relações com a diretora Patty Jenkis ao ponto de suas participações em todos os filmes nunca serem contestadas. Ciborgue quase sem chance de ter um filme solo. Aquaman sendo um peixe fora d’água e Flash enrolado na produção de seu filme.
O que fazer?
Usar um pouco da própria experiência, reconhecendo que filmes de super-heróis precisam dialogar com o público mais jovem e não criar narrativas tão pesadas, bem como olhar o sucesso da Marvel e aprender que é possível fazer um filme com um herói B.
Daí vocês podem pensar: o Shazam é um herói 100% da categoria B?
Um pouco.
Fato interessante: a imagem do Shazam adulto é inspirada no ator norte-americano Freddie MacMurray (1908 – 1991). Ou seja: o cinema inspirou a imagem de um personagem de quadrinhos que depois foi base para criação de um filme com atores reais! Arte inspira arte que influencia arte.
Primeiro porque ele não foi criado no que hoje conhecemos como DC. Em sua primeira aparição em quadrinhos, em 1940, ele causou uma grande impressão e até ultrapassou o índice de vendas do Superman. Daí os editores tiveram que acusar os criadores, C. C. Beck e Bill Parker, de plagiarem o Homem de Aço. A causa deu como favorável e o pequeno estúdio perdeu os direitos do personagem. Em suas várias reformulações, ele passou de um Billy Batson doce e um Shazam realmente sábio ao que vimos no cinema. Sem contar suas participações em HQs importantes e como membro de grupos populares, como a própria Liga. Em desenhos, ele teve sua própria animação e fez ponta no desenho da Liga da Justiça. Até aí tudo bem.
Todavia e em minha humilde opinião, isso não é suficiente para que o mesmo seja considerado um herói do escalão principal. E se duvida, pense: mesmo que ele seja integrante da Liga, só leitores de quadrinhos lembram-se de sua participação. Os principais são um grupo tão sólido (Superman, Batman, Mulher Maravilha, Aquaman, Flash, Lanterna Verde e Caçador de Marte) que o Shazam soa quase como um D’Artagnan. Até o Ciborgue é mais reconhecido como membro da maior equipe de super-heróis dos quadrinhos do que ele.
Com tudo isso, como fazer um filme desses?
A resposta está em um homem que nem apareceu no filme, mas que as pessoas gostam tanto dele que ele pode ser o próximo presidente dos EUA se ele quiser se candidatar.
Seu nome?
Dwayne “The Rock” Johnson.
Como diz o “Choque de Cultura”: se o The Rock escolheu a DC, eu não vou ficar escolhendo entre DC e Marvel.
Verdade seja dita: não que o filme não seja legal. O elenco é maravilhoso e ficou bem caracterizado, até compensando a falta de perícia dos efeitos especiais.
No entanto, como o universo do Shazam soa quase a parte do que foi produzido pela Warner-DC, não ficaria surpreso se as pessoas fossem ver o filme para ver a construção do enredo que vai fazer um dos atores mais queridos de Hollywood interpretar o grande vilão Adão Negro.
Agora aprofundando o elenco: quando um filme sobre um super-herói é divulgado, as pessoas já perguntam quem será o ator principal e começam com elogios (Benedict Cumberbatch como Doutor Estranho, por exemplo) ou reclamações (Robert Pattinson como Batman, em outro exemplo). E no caso do Shazam, o protagonismo precisa ser duplo. E para a sorte do público, Asher Angel (Billy) e Zachary Levi (Shazam) fazem isso muito bem. Ambos interpretam personagens que evoluem e se tornam mais virtuosos e conscientes de seu lugar na trama. E tudo isso com boas relações com o elenco coadjuvante. Cada um tem uma chance de brilhar e a agarra muito bem, a meu ver.
Entre os coadjuvantes, temos alguns tipos bem peculiares: o mentor com Djimon Hounson, o aliado com Jack Dylan Grazer, o vilão com Mark Strong (detalhe: sua origem vem de um lar ruim com um pai interpretado pelo John Glover. Parece até o Lex Luthor em “Smallville”). Tudo bem parecido com uma receita de bolo quando se conta uma história de super-herói que precisa ser bem “good vibe” pela quantidade de elenco mirim e a mensagem que passa sobre a importância de uma família.
Eu levaria um tiro por essa garotinha!
E já que entrei no âmbito da narrativa, vamos falar do roteiro: ele precisa apresentar o herói, seu ganho de poderes, seu treinamento, seu uso no combate ao crime ou lidando com as ações do vilão (que também passa pela apresentação, conquista de habilidades, desenvolvimento das mesmas e o mais importante: a motivação para fazer o que faz), apogeu (geralmente, antecedido de uma queda quase impossível de ser superada) e final gratificante. O filme tem tudo isso? Tem. E o que é melhor: possui bons pontos de virada, com a revelação das motivações da mãe de Billy em abandoná-lo e o momento em que Shazam vira o jogo na luta contra o Dr. Silvana, fazendo com que seus irmãos adotivos também ganhem poderes.
A mãe de Billy Batson pode ser considerada a maior vilã do universo de filmes da DC?
E sobre os efeitos, deixem-me justificar: não é que eles sejam tão ruins quanto o final da luta do Pantera Negra em seu filme solo. Pelo contrário. São até convincentes em muitos momentos. Seja como for, as cenas de voo parecem gritar na cara do público que os atores são erguidos por cordas.
Em suma, “Shazam” é um filme que seguiu o legado da Mulher Maravilha com a cor, o do Aquaman com o humor e criou a sua identidade própria com a relação familiar e a importância que se deve dar à mesma. Na DC, ele funciona sozinho tão bem quanto os Guardiões da Galáxia funcionam sem o UCM. E graças ao que sabemos da produção dos próximos filmes, podemos esperar algo muito grandioso pela entrada de Dwayne Johnson e seu tão esperado Adão Negro.
Recomendo!
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