Por Davi Paiva
ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS!!!
A ideia era muito boa. Com o ator já definido para o papel principal, a apresentação do mesmo no complicado “Batman vs. Superman” e o uso do mesmo no filme da Liga da Justiça, era hora do Aquaman ter um filme solo.
Para isso, foi reunido um elenco que, a meu ver, mostra que a DC contrata as pessoas certas para os papéis errados: não que Amber Heard, Patrick Wilson ou Yahya Abdul-Mateen II (principalmente) não tenham mandado bem, respectivamente, interpretando a Mera, o Mestre dos Oceanos e o Arraia Negra. No entanto, se você faz parte do time que acha até hoje que o Jason Momoa seria um ótimo Lobo e/ou que o Willem Dafoe ficaria ótimo como Coringa, seremos grandes amigos.
Um elenco bom. Mas que a meu ver, teria ficado melhor em outros papéis.
Quem não gosta da Jornada do Herói deve odiar este filme. Ainda que ele comece mostrando o começo do relacionamento dos pais de Arthur Curry, ele segue todos os passos de Iniciação, Partida e Retorno da estrutura criada por Joseph Campbell e aprimorada por Christopher Vogler.
Duvida? Então vamos lá:
• Mundo comum: onde Arthur vivia, ciente da sua condição especial, treinamento, tridente da mãe e noção dos poderes. Entre um resgate de submarinos sequestrados por terroristas aqui e o assassinato a sangue frio de um terrorista na frente do filho ali, ele encontrava um tempo para um papo com o pai e uma bebida com uma galera nos bares;
• Chamado à Aventura e Recusa do Chamado: depois de um ataque onde seu pai quase morre e toda a argumentação com Mera (Heard), Arthur é convencido a lutar, depois de relutar;
• Encontro com o Mentor: em flashbacks, Arthur lembra tudo que aprendeu com Vulko (Dafoe) ao mesmo tempo em que Mera também o ajuda a se encontrar dentro do contexto no qual está inserido.
E aí, já estão convencidos? Espero que sim.
O roteiro pode ser simples, mas funciona dentro de sua proposta de transformar um bad boy em um virtuoso rei dos sete mares.
Infelizmente, ele peca muito na coerência interna com o filme da Liga. Depois que você vê toda a tecnologia de Atlantis e sua cavalaria de animais em tamanhos maiores do que conhecemos, aquela torre de defesa da Caixa Materna com aquele punhado de soldados soa muito precária. Sem contar que até o filme solo do Aquaman, ninguém podia falar debaixo d’água. Agora, do nada, todos podiam...
A direção fica por conta de James Wan, diretor que não abre mão de fazer pelo menos uma cena de terror em um filme de super-herói. E ele merece, afinal, pelo menos ele sabe criar um universo cinematográfico na franquia “A Invocação do Mal” e seus devidos spin-offs. Não por acaso, a DC estuda criar um filme a parte só sobre as Criaturas do Fosso...
O filme tem uma boa pegada de cenas de luta dentro e fora da água, se alternando entre combates fechados um contra um e cenas de encher os olhos como a perseguição pela Itália. Tudo dava a entender que a crescente da qualidade das cenas de ação levaria o público a uma batalha de encher os olhos, certo?
Errado!
Em sua luta contra o guardião do tridente de Atlan, o fundador da cidade submersa, Arthur dá um “salve Martha” onde se salva apenas pela sua capacidade de falar com criaturas aquáticas. E na batalha contras as tropas do Mestre dos Oceanos, ele vence não só porque ninguém pensou em atacar o casal se beijando no meio de uma guerra como também pelo fato que seu inimigo não sabe flanquear.
“Capitão, posso atirar no casal se beijando ou é melhor atirar na criatura colossal?”
Apesar de tudo, o filme é ruim?
Claro que não.
Primeiro, temos que lembrar que ele é uma obra que faz parte do universo cinematográfico da DC, onde temos um Superman que rouba roupas de um varal e destrói caminhões de trabalhadores (?!), um Batman que marca criminosos como gado (?!), uma Mulher Maravilha que participa da Primeira Guerra Mundial sem ninguém saber e desaparece por quase 100 anos (?!), um Ciborgue que nunca veremos desenvolvido em um filme solo porque a Warner não tem dinheiro para fazer o corpo dele em CGI (!!!) e um Flash que parece uma mistura de Jar Jar Binks com Ligeirinho. Logo, o Aquaman não está tão ruim de reputação.
Segundo, o filme tem muita coisa que os anteriores não tiveram: cor, trilha sonora, desenvolvimento e um vilão com motivação tão coerente quanto a do Killmonger no filme do Pantera Negra.
E por último, esqueçam aquela imagem galhofa de Aquaman do desenho dos Superamigos e sacramentada com “Aquaman is suck” na voz de Raj (do seriado The Big Bang Theory). Este Aquaman era um cara durão no começo do filme, que se torna virtuoso e poderoso no final. E sua imagem é a soma de várias representações do super-herói nas HQs: do cabelo e a barba das sagas mais clássicas ao uniforme dos Novos 52. E agora que ele fica com a Mera no final, podemos esperar um filho e quem sabe o famoso incidente que o fez perder um braço e ganhar o arpão substituindo o membro decepado?
Talvez.
Seja como for, seu faturamento de US$ 1,148 bilhões, sua nota de 65% no Rotten Tomatoes (e 74% na audiência geral) e sua recepção de público comprovam que ele é um peixe fora d’água no universo cinematográfico de onde veio.
E para a nossa sorte, um peixe que deu certo.
Obrigado a todos(as).
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