segunda-feira, 3 de junho de 2019

Tolkien



Por Davi Paiva


Atenção: embora esta seja a resenha de um filme biográfico, não muda o fato que as informações neste texto não possam ser consideradas como spoilers. Caso queira ler uma crítica de minha autoria sem spoilers, acesse aqui.

Filmes biográficos são, em sua maioria, cheios de controvérsias e alvo de duras críticas. Escalar Will Smith para o papel principal em “Ali” foi uma decisão muito ousada na época pelo estilo de atuação do ator, Rami Malek foi contestado por muitos por sua atuação em “Bohemian Raphsody” e nem seu Oscar de melhor ator convenceu os críticos, além da saturação do ator Thiago Mendonça em filmes de cantores brasileiros como “Dois Filhos de Francisco” e “Somos Tão Jovens”.

E as críticas não se resumem só a escolha de atores. O roteiro do filme foi fiel aos fatos reais? O ator canta, dança ou fez treinamento de tiro, por exemplo, para viver o protagonista? O diretor retratou o drama vivido pelo biografado durante a época retratada? A família do biografado aprovou a produção?

É por essas e outras que filmes biográficos são, como eu já disse, alvo de duras críticas. Teremos alguns nacionais este ano no cinema (Hebe, Wilson Simonal, Mamonas Assassinas, etc.) assim como também temos alguns estrangeiros. E um deles é “Tolkien”.


Nicholas Hoult nas trincheiras da Primeira Guerra: a vida de Tolkien envolveu batalhas além dos livros.


A obra retrata a vida do criador da épica saga “O Senhor dos Anéis” em pequenas pinceladas de sua infância para depois se revezar entre sua vida adulta antes e durante a Primeira Guerra Mundial, na qual participou. Na batalha, Tolkien é vítima de uma febre e tenta encontrar um amigo ao mesmo tempo em que vê cavaleiros, espectros e até dragões entre os inimigos. A mescla dos efeitos especiais com a realidade vivida pelo soldado ficou muito boa.

Sem um elenco famoso para o povo mais comum, cabe a Nicholas Hoult não só ser o mais conhecido pelo público geral como também o fardo de carregar quase o filme inteiro nas costas. Digo “quase” porque Lilly Collins, que interpreta Edith Bratt, esposa do escritor, estabelece uma boa química com o ator principal e brilha em momentos chave para mostrar ao público como era difícil a vida de uma mulher na Inglaterra ultraconservadora do início do século XX.


Lilly Collins nos entrega uma apaixonante Edith Bratt.


A direção de Dome Karukoski nos dá um filme que você não percebe o tempo passar. E o roteiro de David Gleeson pincela tanto a infância, como já dito, quanto o final onde Tolkien recebe uma folha em branco e escreve a famosa frase de abertura do livro “O Hobbit”. Para alguns, a falta da influência da religião na vida do escritor, não retratar seus estudos de mitologias, seu método técnico de escrita com planejamentos de enredo ou como custou para o mesmo se tornar um escritor famoso foi um erro grave. De qualquer forma, em minha opinião particular, quando você tentar espremer tantos anos de vida de uma carreira em um filme de duas horas, acaba obtendo outro “Bohemian Raphsody”. E eu não queria ver tal tipo de crítica novamente ao roteiro. Prefiro ver pinceladas a baldes de tinta jogados aleatoriamente em uma tela.

Por último, mas não menos importante, os detalhes visuais do filme também estão muito bons. Os figurinos são bem elegantes, os cenários são bem convincentes e a fotografia se permite ser colorida sem ser saturada na vida de Tolkien antes da Primeira Guerra enquanto nas trincheiras, assume um tom mesclando amarelo e verde que pode muito bem ser associado ao uso de gás mostarda nos campos de batalha, que dá contraste ao negro dos espectros nas fumaças ou os cavaleiros vistos pelo escritor em sua alucinação febril.


A transição entre a fantasia e realidade é bem fluída.


*
Para finalizar, deixo os meus agradecimentos ao meu amigo Sandro Prado por me indicar ao Laudelino Moreira do site “Anime Xis”, que me deu a oportunidade de assistir ao filme em uma sessão de imprensa pela primeira vez. Assim como a Fernanda Oliveira pela organização do evento no Shopping Pátio Paulista e a editora Harper Collins por presentear os participantes do evento com um exemplar do livro “J. R. R. Tolkien – Uma Biografia” do autor Humphfrey Carpenter.

Ficou com curiosidade? Assista ao trailer aqui.

Obrigado a todos(as) e tenham um bom filme!


Este livro vai comigo para o túmulo!

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